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Metonímia do desejo

Não há desejo plenamente satisfeito desde que o ser humano foi marcado pela falta. A falta, um conceito lacaniano, significa que aquela sensação de plenitude que sentimos quando somos bebês e todos os desejos são atendidos pelas nossas mães, jamais será alcançado novamente. A partir do momento em que crescemos e somos atravessados pela aquisição da linguagem, somos seres faltantes porque, por mais que a linguagem expresse o que sentimos, ela nunca expressará um sentimento em si, ninguém pode sentir o que sentimos através das palavras que usamos.

A metonímia do desejo nos diz que deslizamos nosso desejo de um objeto para outro sem nunca nos determos em um único objeto porque não é possível satisfazer um desejo para sempre. O desejo é sempre desejo de outra coisa. ⠀

Por mais felizes que estivermos em uma determinada situação, o desejo sempre desliza porque o desejo é sempre insatisfeito. ⠀

Apesar de parecer uma justificativa cômoda, não serve para justificar uma infidelidade, por exemplo, porque a psicanálise também nos ensina que a nossa posição de sujeito nos torna sempre responsável por nossas escolhas. Apesar de sermos seres desejantes, podemos renunciar a esse desejo por um motivo que consideramos maior. ⠀

Lembre-se que a psicanálise está aqui para desacomodar, ela também não serve para satisfazer desejos. ⠀

A metonímia do desejo pode parecer uma condenação vitalícia, mas na verdade é uma grande libertação. Ela nos diz que não temos a obrigação de sermos plenamente felizes o tempo inteiro, como essa cultura de demanda de gozo nos faz acreditar. Ela nos diz que as coisas e as pessoas são passíveis de falha, assim como nós, e que tudo bem não estar feliz ou se enganar com um amor que parecia ser para sempre. Um amor só é pra sempre quando o olhamos retrospectivamente, nunca o é no início. ⠀

A metonímia do desejo nos liberta do tédio de uma vida que só nos gratifica e nos permite evoluir buscando formas criativas de gozar, inventando outros objetos de desejo, conquistando outros objetivos. A falta nos liberta para que a gente se jogue no mundo e enriqueça nossa existência. ⠀

Seguimos faltando… ainda bem!

Escrito por:
Fernanda Soibleman Kilinski

CRP: 07-19871 - Porto Alegre - RS

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